La Mafia: Capítulo 3- O legado da família
Eu não sabia o que fazer. Eu só sabia que precisava fazer algo o mais rápido possível, se por fora seus machucados estão assim, eu nem quero pensar em como está o corpo de Mateo por dentro.
Passei a noite inteira acordada com Mateo, ele estava febril, na verdade não temos noção de tempo algum, não sabemos se é dia, noite, se chove ou não lá fora, não sabemos nada além dessas paredes de concreto. A porta de ferro fez barulho, eu era a única acordada, devagar entraram dois homens, foram até o colchão de Alicia e a levantaram com força.
-O QUE ESTÁ ACONTECENDO? O QUE VÃO FAZER COMIGO?-Ela gritou, despertando assim a todos. Ela se debatia tentando escapar das mãos deles.
-Por favor, meu amigo precisa de ajuda, ele vai acabar morrendo...-Levantei e me aproximei deles enquanto Alicia se debatia. O homem me olhou nos olhos, e permanecia em silêncio, ele olhou para o outro homem e depois olharam para Mateo, saindo logo em seguida levando com eles Alicia.
-Até que eles demoraram para pega-la.-Disse Elisa enquanto encarava a porta já fechada. Sofia estava tremula e muito assustada com a cabeça sob os joelhos.
-Por quê?-Indaguei.
-Ela trabalhava na noite como acompanhante, até que se envolveu com um dos caras que trabalha pro chefe, e roubou uma quantidade grande de cocaína a mando do cafetão dela. Colocaram fogo nele no mesmo dia, mas trouxeram Alicia pra cá.-Explicou.
-Esses caras são o quê exatamente Elisa? Eu preciso saber! Você precisa me ajudar!-Disse me sentando ao seu lado no colchão. Ela parecia pensar em uma resposta.
-Você ainda não entende o que está acontecendo minha querida?-Neguei com a cabeça.
-Estamos na mão de uma das maiores máfias italianas.-Ela falou baixando a cabeça logo em seguida.
-Mas eu nunca me envolvi com nada disso Elisa! Eu mal saio de casa, só trabalho.-Eu não acreditava no que acabara de ouvir. Eles não eram bandidos quaisquer.
-Eu ainda não entendo o motivo de você estar aqui Martina, muito menos o Mateo.
-E você? Por quê está aqui?-Perguntei olhando para Sofia, que logo levantou a cabeça com os olhos cheios de lágrimas.
-Meu pai desrespeitou o acordo.
-Que acordo?-Perguntei.
-Cada máfia controla uma zona do mapa, e meu pai estava distribuindo as drogas e as armas em uma zona que não era dele. Eu estava saindo da escola quando me colocaram em uma caminhonete preta e eu acordei aqui.
-Você está me dizendo que o seu pai é um mafioso? É isso?-Tudo parecia loucura ou coisa de filme.
-Exatamente. Mas Martina, eu não tenho culpa do que ele faz.-Ela disse repousando a cabeça sob os joelhos novamente.
Eram muitas informações para absorver de uma vez só. Eu havia sido sequestrada pela máfia italiana e não conseguia buscar nenhum motivo plausível na minha cabeça para isso.
-Elisa, se você era doméstica deles, e trabalhava na casa, como que você está aqui?-Perguntei logo que a dúvida surgiu na minha cabeça, não fazia sentido uma senhora como a Elisa estar aqui.
-Minha filha está com câncer.-Ela disse com os olhos cheios de lágrimas, mas isso ainda não respondia minha pergunta.-E eu precisava de muito dinheiro para pagar o tratamento dela e... Acabei dando informações para a máfia rival em troca do dinheiro, não demorou muito para que o Chefe descobrisse e me colocasse aqui. Acho que ele só não me matou ainda em consideração por eu ter ajudado a cria-lo.-Concluiu.
-Você criou o homem que está fazendo isso conosco?-Olhei para ela com a testa franzida.
-Eu tinha 28 anos quando cheguei aqui. A mãe dele estava grávida e foi ela quem me contratou. Eu vi aquele menino crescer, eu vi quando ele perdeu o pai aos 20 anos, e o vi assumir o legado da familia. 35 anos depois que cheguei até essa familia, cá estou eu.-Disse Elisa entre alguns suspiros segurando o choro.
-Elisa, você os conhece, não poderia tentar falar com algum deles para ajudar o Mateo? Eles nunca dizem uma palavra si quer.-Pedi.
-Minha querida, agora não importa se eu os conheço ou não, eu traí a confiança do Chefe, sou só mais uma, como vocês.-Ela disse e começou a chorar. Olhei para Mateo que estava me olhando e logo caiu de lado. Ele havia desmaiado.
-Mateo? Mateo? Por favor acorda!-Falei dando leves tapinhas em seu rosto, enquanto a cabeça dele repousava sobre os meus braços.
-Ele deve ter desmaiado de dor.-Disse Sofia.-Olha, os lábios dele estão ficando roxos.-Ela disse apontando para a boca dele, olhei para a ponta dos dedos dele, e estavam da mesma forma, ele estava gelado, eu precisava fazer alguma coisa, mas o que eu poderia fazer?
-Mateo!-Ele conseguiu com muita dificuldade abrir os olhos, mas a cada hora ficava mais fraco.
...
A porta se abriu novamente, vieram nos trazer a refeição.
-Por favor eu imploro, ajudem meu amigo, ele não vai aguentar.-Pedi. Mateo ainda estava com a cabeça repousada nas minhas pernas. Os homens nos olharam, e pareciam ter ignorado meu pedido. Deixaram a comida e a agua e sairam fechando a porta mais uma vez.
-Você precisa comer meu amor.-Falei tentando o colocar sentado, com as costas na parede. Eu estava de costas para a porta quando a ouvi abrir novamente. Quando olhei pra trás fui surpreendida por um forte tapa no rosto que me fez cair sentada pra trás. O homem sacou a arma e deu vários tiros no Mateo, bem ali, na minha frente.-SEU DESGRAÇADO PORQUÊ VOCÊ FEZ ISSO?-Me joguei por cima do corpo de Mateo já sem vida, chorando desesperadamente. Eles haviam o matado, e agora eu não podia fazer nada além de chorar.
O homem me agarrou me puxando para longe do corpo de Mateo, eu me debatia tentando me soltar, enquanto o outro puxava o corpo de Mateo pelas pernas o arrastando para a saída, eu queria tirar meu amigo daqui, e ele acabou cruzando essa porta sem vida, e todos os seus sonhos e planos haviam morrido naquela sala. A dor que eu sentia não era física, era na alma. Eu estava em pedaços.
Ele me soltou me jogando no chão e fechou a porta logo em seguida. Sofia veio até mim me abraçando, eu estava coberta pelo sangue de uma das pessoas mais importantes da minha vida, e eu fui incapaz de conseguir ajudá-lo. Elisa pegou uma garrafa de agua e começou a lavar as minhas mãos, havia sangue na parede, no colchão, e um rastro que levava até a porta, e todo esse sangue, era de uma das pessoas mais incríveis que eu conheci.
...
UMA SEMANA DEPOIS
Eu não sabia a quanto tempo estava aqui, já faz um certo tempo desde o dia da morte de Mateo. Não houve uma vez si quer que eu não tive pesadelo com aquela cena todas as vezes que tentava dormir. Eu não disse uma palavra desde que Mateo faleceu, e faz alguns dias que eu não consigo comer. Aqui não há nada além de colchões e uma privada no canto da sala, eu daria tudo para tomar um banho quente, enquanto Mateo usa o secador em frente ao espelho cantando uma música qualquer com muita desafinação e nós damos risadas. Mas isso nunca mais vai acontecer.
Eu não consigo descrever o que estou sentido, é como se algo dentro de mim tivesse mudado no momento em que vi Mateo morrer, eu queria justiça! Afinal, Mateo nunca havia feito nada de errado, e não merecia o que aconteceu com ele. Eu preciso encontrar uma forma de sair daqui.
-Elisa.-A chamei e ela me olhou.-Nós precisamos fazer alguma coisa, faz muito tempo que estamos aqui.-Falei.
-Eu se fosse você, não tentaria nada Martina.-Disse Sofia.
-Pensou em alguma coisa? Eu preciso ver a minha filha...-Disse Elisa.
-Você está a muito tempo aqui, não creio que vão mata-la, é como se fosse um castigo.-Disse. Ela pareceu pensar.
-Faz sentido, vi muitos sairem daqui e nunca mais voltarem, ou perderem a vida aqui mesmo.-Ela falou, na hora a cena de Mateo veio a minha mente, balancei a cabeça tentando apagar esses pensamentos.
-Exatamente! E você continua aqui. Talvez, o seu Chefe esteja te punindo, mas ainda sim, se importe com você.-Falei. Eu estava bolando um plano na minha mente, mas para ele funcionar, eu precisava convencer a Elisa.
-O que pretende fazer Martina?-Perguntou.
...
Contei meu plano para elas, Sofia acredita que provavelmente eles me matem, mas eu disse que gostaria de morrer tentando do que continuar presa nesse lugar. Elisa por fim, aceitou.
Elisa fez exatamente o que eu pedi, assim que ouvimos o barulho das trancas sendo destravadas, começou a fingir vômito na privada no canto da sala, nós sabiamos que, eles iriam ver a situação, e iriam sair para consultar o Chefe, sobre o que fazer. Eles entraram, deixando as comidas no chão, olharam a Elisa enquanto eu fingia ajudá-la.
-Meu braço Martina... Está formigando.-Falou e levou a mão ao peito, queríamos que eles acreditassem que ela estava infartando. Os homens se olharam e correram fechando a porta.
Nós sabíamos que logo eles voltariam, tinha a possibilidade de matarem Elisa como fizeram com Mateo quando viram que ele estava mal, mas eu precisava acreditar que daria certo. Sofia mesmo não concordando com o plano, disse que ajudaria.
A porta se abriu, e meu coração disparou, era agora ou nunca, não tinha margens para erros. Elisa levantou a cabeça e olhou para porta, dessa vez, um dos homens era outro.
-Chefe...-Disse Elisa, então o olhei. Era um homem alto, cabelos médios castanhos claro, quase loiro, olhos verdes e barba serrada, usava roupa social esportiva. Ele adentrou a sala dando passos lentos, direcionei meu olhar para sua cintura, para ver se estava armado, aparentemente não. Nós estávamos e costas para a porta, Elisa ajoelhada em frente a privada, com a mão no peito, e Sofia segurando seus cabelos.
-Elisa?-Ele falou. Sua voz era rouca e branda. Ele se aproximou o suficiente, junto com o outro homem que parecia preocupado com Elisa. Ela o olhou, e fingiu o desmaio, como eu imaginava eles tentaram a segurar, e esse foi o momento em que eu corri o mais rápido que pude e consegui passar por aquela porta a trancando imediatamente.
Eu não sabia o que esperar quando passasse por aquela porta. Eu podia ser recebida a diversos tiros, ou ser pega assim que passasse, mas não, haviam dois corredores vazios, segui minha intuição e fui para o esquerdo. Eu podia ouvi-los batendo na porta pelo lado de dentro, e alguns gritos do tal "Chefe".
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